Alegria e “coisas” boas: um postal para Agustina
Nestes primeiros dias de Outono, ao atravessar o nosso Jardim Botânico, lembramos que os nossos passos podem estar a dar contemporaneidade aos que terão sido os passos de Agustina por aqui. Agustina viveu em Coimbra, “numa pequena casa da Rua dos Combatentes que ficava dentro dum jardim. Seria a casa do chauffer, se houvesse esse cargo na família dos senhorios”; mas esses não foram tempos que deixassem uma leque alargado de boas memórias da cidade, embora “a Coimbra dos doutores [tenha sido] mais do que um episódio, foi um estágio para a vida”. Se exceptuarmos o Jardim, as referências à cidade acabam por ser escassas e pouco abonatórias (“Coimbra pareceu-me pacata, arrastada, sem imaginação”), dedicando-lhe posteriormente “Os super-homens”.
Quem nos apresentou Agustina foi A Sibila. Leitura obrigatória, a escrita cenográfica de imediato prendeu a atenção, apesar da análise escolar à obra se centrar demasiado nas questões gramaticais e em interpretações que deixavam pouco ou nenhum espaço para procurar outras simbólicas para o mundo a que estávamos a ser apresentados. Regressei a esta obra mais tarde e voltei de novo a ler recentemente num modo muito particular de celebrar o centenário que amanhã, 15 de Outubro, somos convidados a Celebrar.
Parabéns e Obrigada, Agustina!
A familiaridade com que nos aproximamos de Agustina terá a ver com nela encontrarmos a figura da avó que nos conta histórias de uma forma que nos encanta e prende a atenção, fazendo-nos entrar em mundos outros que nos levam a questionar algumas das “verdades” que nos servem em bandeja de … papel. Agustina é a avó que diz o que pensa, sem usar subterfúgios outros que não sejam a enorme riqueza e plasticidade da língua portuguesa e nos leva a, de alguma forma, treinar o pensamento crítico.
De uma avó queremos conhecer a história, saber como cresceu, onde cresceu, o que fazia em criança, como brincava, o que comia, queremos conhecer todas as fases de uma vida que sentimos próxima, queremos encontrar semelhanças, queremos saber aquilo que mais ninguém se atreve a dizer ou fazer.
Gosto de Agustina. Gosto cada dia mais. Gosto de descobrir a força de um ser humano enorme que, à semelhança de tantos outros, usou e usa a palavra como arma.
Há livros de que gosto mais do que outros. Há as crónicas e memórias que vou descobrindo e me levam a outras leituras. Gosto de “O livro de Agustina”. Gosto muito de “Sapatos de Corda”, o livro com que Mónica Baldaque, a filha, nos aproxima ainda mais desta “nossa avó” Agustina. Gosto particularmente da cumplicidade que se descobre em Agustina e Sophia, tão diferentes e tão próximas em Amizade.
Celebrar o centenário de Agustina é continuar a ler a obra que nos deixou em legado. Ler com olhos de ouvir, sentir e saborear. Ler e lançar um olhar novo, reparador, sobre o mundo em que vivemos.
Nota: todas as citações foram retiradas de “O livro de Agustina”, de Agustina Bessa-Luís.
Até breve, caríssimo leitor, boas leituras e … Celebremos a Vida que somos!

Autora: Alice Luxo
Living Place – Animação Turística
ECO Quinta Villa Maria