Isto é um vírus…
Estamos, há quase dois anos, a trabalhar afincadamente para entregar de bandeja tudo aquilo que, a maior parte de nós, recebeu de bandeja daqueles que (ironicamente), nesse entretanto, formam sucumbindo a “isto”.
“isto” é um vírus.
“isto” é um vírus respiratório.
“isto” é um vírus respiratório transmissível.
“isto” é um vírus respiratório transmissível que sofre mutações.
“isto” é um vírus respiratório transmissível, que sofre mutações e que tem variantes.
“isto” é um vírus respiratório transmissível que sofre mutações e tem variantes e que causa sintomas mais ou menos graves e que pode deixar sequelas mais ou menos graves.
“isto” misturado com medo e alarmismo, com governos com saudosismos e tiques ditatoriais, com jornalismo a sofrer concorrência de canais de entretenimento, com défice de espírito crítico e de bom senso, com um SNS estilhaçado ao longo de décadas, não deixa de ser aquilo que é: um vírus respiratório, transmissível que sofre mutações e que tem variantes e que causa sintomas mais ou menos graves podendo deixar sequelas mais ou menos graves.
Os sintomas são mais ou menos conhecidos. As sequelas, ainda que (quase sempre) imprevisíveis, também.
Fechar os olhos aos sintomas é trágico. Sempre. Em qualquer doença.
Fechar os olhos aos indícios das “doenças”, também.
“Às vezes é um bocado parvo porque não conhecemos bem as pessoas todas que estão ali. Devíamos votar só em quem conhecemos.” Em qualquer país.
Este tipo de “doença” é reconhecível. Os seus sintomas também. E que países como a Alemanha ou a Áustria estejam a ser pioneiros na tentativa de endurecer as medidas tresloucadas de “conter” ou “exterminar” “isto”, e, com isso, (re) instalar o impensável, não deixa de ser irónico.
Em todo o lado, quando entregamos de bandeja ao “poder” o poder de decidir qual é o nosso bem comum, o bem da nação, estamos a aproximar-nos de lugares que imaginávamos longe.
Este tipo de entrega cega do que temos de mais valioso (não, não é a saúde) nas mão dos que detêm o poder é perigoso. Que países temos, hoje em dia, a fazer isto? Que momentos da história formam marcados por ideologias e “contratos” deste tipo?
Umas vezes o “bem comum” pode ser sermos todos cristãos, todos morenos de olhos negros, todos heterossexuais ou todos do Benfica, todos vacinados, todos sossegados e de olhos brilhantemente obedientes.
Estas “terapêuticas” não têm nada, absolutamente nada, a ver com o bem comum. E estes últimos dois anos não têm nada, absolutamente nada a ver com saúde. Pelo menos que se possa provar sem pesos na consciência, já não.
As novas fogueiras, os novos exílios, as novas perseguições, os novos bufos, os novos chibos, os novos inquisidores. Os novos campos de reeducação, cuja renda, conta de água e de luz são pagas por nós porque é em casa que nos fecham e é a partir de casa que nos aconselham a viver e a trabalhar. A sério?
Os nossos profissionais de saúde a serem levados à exaustão, a ir além dos limites que já há muitos anos tinham sido ultrapassados e a “obedecerem” à DGS. A sério?
Nós, se infectados por um vírus assustador, devastador, terrível, que lixou o mundo inteiro, fechados em casa, a mamar paracetamol durante 10 dias e a responder a inquéritos sobre o barulho que faz a nossa tosse e por onde e com quem é que andamos nos últimos dias.
A sério?
forma como estamos a tentar lidar com isto, as terapêuticas e as medidas adotadas nos últimos (quase) dois anos não permitem travar nenhum coronavírus. Nem o um, nem o dezassete, o quatrocentos e cinquenta e seis ou o 19. Porque não é para isso que servem, será? Ainda não percebemos? A sério?
Não, já não é o Natal que precisamos de salvar.
Não, já não é o SNS que precisamos de salvar.
Não, já não é a economia que precisamos de salvar.
Não, já não são os mais vulneráveis que precisamos de salvar.
Não, já não é a TAP ou o Novo Banco, ou a RTP ou o comércio local, ou a restauração ou a cultura que precisamos de salvar.
É o coiro.
É o nosso coiro que precisamos de salvar.
E, se ainda formos a tempo, o chisquinho que resta da nossa dignidade.
Rua! Rua com isto.

Autora: Cristina Gameiro
Living Place – Animação Turística
ECO Quinta Villa Maria